quinta-feira, 26 de abril de 2012

"A Tempestade que chega é da cor dos seus olhos..."

Aqueles olhos ainda me atormentam. Castanhos, grandes,um poço sem fundo, um mistério constante. Contrastavam com o sorriso iluminado, de criança que acabou de aprontar. Ele era assim, um paradoxo humano. Me procurava pedindo carinho, para logo depois se afastar. Dizia me amar e me odiar. Tinha medo de mim, mas eu era seu refúgio. Quando estávamos juntos, o universo era nosso, quando separados, éramos fortes, mas não o suficiente. Ele foi minha fonte de vida, até que um dia, durante uma tempestade, foi embora. Não me deu adeus, não deixou sequer uma carta, simplesmente foi-se, como se nunca houvesse existido. Enlouqueceu-me. Durante dias o procurei. Telefonei para todos lugares possíveis,investiguei, mas não encontrei nada. Com o passar dos dias, fui me conformando, e com os anos, fui esquecendo. Mas nunca me desvencilhei do seu olhar. Ainda hoje, a lembrança daqueles olhos, arde em mim.

terça-feira, 17 de abril de 2012

E se...

Quando nos apaixonamos, nos apaixonamos pelo que exatamente?
Pela forma física? Pelo intelecto?
Pelo ideal de relacionamento perfeito, ou simplesmente pelo que a pessoa representa?

Nós nos apaixonamos pela situação.

Nos apaixonamos pelo futuro imaginado, pela família, pelo carinho com que somos tratados. Nos apaixonamos quando a pessoa fornece o que estamos precisando naquele momento.

Mas qual a diferença entre amor e paixão?

Amor é surreal. É maior que tudo, até mesmo nosso instinto de sobrevivência. Quando amamos nos desnudamos, nos entregamos, de forma incondicional.
Paixão nos acomete de forma arrebatadora, e depois... Passa.

Como distingui-los? Como evitar a dor de perder um ou ganhar outro?
Não existe maneira. Ou você se entrega, ou fica se perguntando "E se..."


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Divagações

O que nos move?
O que nos faz começar uma nova etapa da vida e o que nos faz terminá-la?
Despedidas doem.
Mas dor maior é percebe que as vezes, o que queríamos é incompatível com o que temos.
Qual a fórmula da felicidade?
Como nos sentirmos satisfeitos com o que temos mesmo sendo tudo tão imperfeito?
"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe..."

A vida é uma roda, mas o que faz co que se mova?
Porque não me encontro aqui dentro?
Porque não amo plenamente como antes?
Porque não me entrego?
Porque busco sempre o pior de tudo?

Porque um dia houve alguém que usurpou a esperança de mim...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Vácuo


Vagando pelo universo.
É assim que me sinto.
Entre dois mundos distintos, onde absolutamente nada se encaixa.
Pessoas conhecidas tem faces estranhas para mim, e os estranhos parecem amigos de infância.
Parece que me incompleto, que me perco propositalmente. Quando traço um caminho acabo por desviar. Quando me perco pareço me achar.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Gris

Cada gota de chuva era um suplicio. O barulho do tamborilar era uma canção melancólica de solidão.
A janela embaçada, o céu cinzento, o vento que soprava forte na rua, tudo doía demais dentro daquele coração.
Olhava a porta incessantemente, esperando o barulho na varanda, o ranger do portão.
O relógio tiquetaqueava, como uma risada maléfica e irônica, e ela, ali, sentada no sofá com o copo fumegante de café na mão, só esperava, esperava...
Os olhos, de um verde musgo profundo, eram úmidos de desespero. A boca, fina como uma linha, rígida, desenhava traços sutis de angustia. O nariz, vermelho, denunciava a fraqueza.
Nem mesmo o cachorro suportara a espera. Depois de algumas horas, pacientemente sentado ao lado da dona no sofá, espreguiço-se de mansinho, como que tentando convence-la da inutilidade do ato, e, dando uma última olhada para aqueles olhos verdes e tristes, subiu preguiçosamente a escada, rumo à sua confortável almofada.
Mas ela permaneceu.
Não saberia dizer quantas horas ou quantos dias ficou ali, levantando-se apenas para buscar mais café, ou lavar o rosto. A verdade é que o tempo, imponente e devastador, passou, e quando o momento tão esperado chegou, e a campainha soou alegremente pela casa, seus cabelos, antes rubis, agora eram esbranquiçados, e da juventude restava apenas a esperança.