quinta-feira, 5 de abril de 2012

Gris

Cada gota de chuva era um suplicio. O barulho do tamborilar era uma canção melancólica de solidão.
A janela embaçada, o céu cinzento, o vento que soprava forte na rua, tudo doía demais dentro daquele coração.
Olhava a porta incessantemente, esperando o barulho na varanda, o ranger do portão.
O relógio tiquetaqueava, como uma risada maléfica e irônica, e ela, ali, sentada no sofá com o copo fumegante de café na mão, só esperava, esperava...
Os olhos, de um verde musgo profundo, eram úmidos de desespero. A boca, fina como uma linha, rígida, desenhava traços sutis de angustia. O nariz, vermelho, denunciava a fraqueza.
Nem mesmo o cachorro suportara a espera. Depois de algumas horas, pacientemente sentado ao lado da dona no sofá, espreguiço-se de mansinho, como que tentando convence-la da inutilidade do ato, e, dando uma última olhada para aqueles olhos verdes e tristes, subiu preguiçosamente a escada, rumo à sua confortável almofada.
Mas ela permaneceu.
Não saberia dizer quantas horas ou quantos dias ficou ali, levantando-se apenas para buscar mais café, ou lavar o rosto. A verdade é que o tempo, imponente e devastador, passou, e quando o momento tão esperado chegou, e a campainha soou alegremente pela casa, seus cabelos, antes rubis, agora eram esbranquiçados, e da juventude restava apenas a esperança.

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