sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quinta-Feira, 7 de Abril de 2011, 8h:30min

O que você estava fazendo? Dormia? Sonhava? No Rio de Janeiro, naquele momento, sonhos eram interrompidos.

Wellington Menezes de Oliveira. 23 anos. Cursou o ensino fundamental de 1999 a 2002, bom estudante, nunca repetiu de ano. Filho adotivo, caçula de cinco irmãos. O pai morreu há cinco anos e a mãe, há dois. Em 2008, ele trabalhou no almoxarifado de uma fábrica de salsichas. O jovem pediu demissão em agosto do ano passado. Segundo funcionários, era um jovem de poucas palavras.

Ontem, ele retornou a sua antiga escola, Escola Municipal Tasso de Oliveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, conversou com uma antiga professora atirou em salas de aula lotadas e depois se matou. Levou consigo 12 crianças. Em uma carta deixou instruções para seu enterro   “Primeiramente deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas”.


"Sempre tímido, aquele mesmo comportamento calado, nunca foi de ter amizade. Uma vez ou outra jogava bola aqui, mas era muito difícil. De uns tempos para cá nem isso", contou a vizinha Vanessa Nascimento. "Ele saía e não falava com ninguém: era de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Não falava com ninguém. Era ele no mundo dele", relatou outra vizinha. "Só curtia internet, como falava. Ele ficava só na internet, mais nada", comentou o vizinho Fábio dos Santos.

Há 8 meses, Wellington se mudou para outra casa, em Sepetiba, também na Zona Oeste do Rio. O imóvel foi herança do pai: “existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar” (…)

Não entendo o que o motivou a fazer isso. Bullying? Religião? Doença? Nada é motivo para tamanha atrocidade. O que estava dentro daquele jovem, que pode ser qualquer um, ainda está solto. O que ele carregou consigo a vida inteira ainda está presente. Pulsando. Ontem chorei pela dor de pessoas que nem conheço. Chorei pelo mundo.

Um comentário:

  1. Doeu ver o desespero de uma mãe ao descobrir que seu filho era um dos baleados. Doeu tanto que parecia que meu próprio filho (que ainda nem existe) havia sido assassinado.
    Porque na antiga escola? Porque a preferência por meninas? Porque crianças, que mal estão descobrindo a vida?
    Eu choro pela dor das famílias, dos vizinhos, dos professores e das crianças, que graças à Deus, sobreviveram a este triste dia.

    ResponderExcluir

Faça duas blogueiras felizes: comente este post!