"Novo Aurélio? Mas, o livro era tão velho..." |
Usar bem as palavras é um dom, um charme concedido a poucos. Não me refiro a seres que exigem ser chamados de “doutores”, que fazem escorrer expressões desconhecidas de suas bocas, usadas para disfarçar a sua (pouca) inteligência. Respeito os que têm o dom do discurso, conhecem o alfabeto. Que acariciam nossos ouvidos com belas palavras, todas perfeitamente alinhadas dentro da frase. O resultado soa quase musical, harmônico.
Foi da minha mãe que herdei essa paixão. Há alguns anos folheava, encantada, o maior livro da pequena biblioteca que ela mantém em casa. Não entendia o título: Novo Aurélio. Novo? Mas, o livro era tão velho...
Folhear as páginas era pura magia. O repuxo daquele mar de verbetes me levava cada vez mais, e eu adorava exibir meus conhecimentos linguísticos.
“Professora, não pude vir a aula ontem porque tive deutergia; gosto de ler livros históricos para não cometer anacronismos; queria ter a pele lioderme como a sua.”
“Professora, não pude vir a aula ontem porque tive deutergia; gosto de ler livros históricos para não cometer anacronismos; queria ter a pele lioderme como a sua.”
Era especialista também em xingamentos: ximbute, mentecapto, energúmeno, primata... Só parava quando as ameaças de defenestração da sala de aula começavam a se tornar sérias. Então, antes que considerem minhas tão amadas palavras um colóquio sonolento para gado bovino repousar, encerro minhas elucubrações, torcendo para não ter sido prolixa.
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